Quantos empresários, profissionais de organizações e profissionais liberais estão se preparando para quando chegar o momento da aposentadoria? Os “espaços” no mercado de trabalho, altamente competitivo, com o tempo vão sendo ocupados pelos mais jovens e, de qualquer maneira, quando não mais tiver disposição física ou desejo de continuar, é chegado o momento de se “desligar”.
O que fazer quando não tiver mais “trabalho” a fazer?
Essa questão é bastante séria e muitos profissionais da área de saúde e de recursos humanos das empresas já tiveram alguma experiência com pessoas que não conseguiram lidar com a fase do “pós-trabalho” e, adoeceram ou mesmo chegaram a óbito.
E a desesperança tem sido muito frequente em nossas sociedades. Nesses últimos dias, um evento marcou o mundo: A morte de um grande profissional da área de entretenimento, o ator Robin Williams. Porém, o que mais chamou a atenção, foi a maneira como isso aconteceu – suicídio. E o “mundo” se perguntou: o que leva uma pessoa, aparentemente saudável, bom profissional, com uma (aparente) situação financeira e familiar estável, cometer tal ação?
Não sabemos. O que sabemos é que, no caso, ele vinha se tratando de uma depressão, com problemas de alcoolismo, drogas e possível doença de Parkinson. No entanto, não sabemos também o que leva milhares de outras pessoas a cometerem esse ato.
A reflexão desse artigo é por conta do que pode levar as pessoas a não terem mais expectativas, vontade para criar, realizar, não buscarem desafios e pior que tudo, não se importarem com mais nada, inclusive com a família, acreditando que o melhor é o fim.
Não é incomum, profissionais que se aposentam e de repente se percebem nesse estado emocional, ou seja, sem expectativas e sem motivação. Sem a identidade profissional (lê-se status alcançado com o trabalho), parece não se ter nada mais a fazer.
E o tempo? Antes era stress pela falta dele, pela correria do dia a dia, por tantos compromissos, reuniões, estudos, projetos, etc. Agora, com aposentadoria, o tempo é longo, às vezes monótono e às vezes inútil.
Inútil como a existência. Esse é o perigo.
Sabemos hoje, que a depressão é uma doença. Segundo Dr. Fernando Lima Magalhães, psicólogo clinico, a depressão “é caracterizada por sentimentos de tristeza, desalento, pessimismo e uma perda geral de interesse pela vida, combinados com um sentimento de mal estar físico e de incapacidade generalizada”.
Também conhecemos os fatores químicos da doença, mas não sabemos o que leva a isso. Por mais que se tenham desenvolvido teorias, ainda a ciência não conseguiu “entender” o que determina o evento. Pode ser genético, estilo de vida, meio ambiente, alimentação e outras coisas, mas ainda não temos uma definição concreta. Medicamentos e terapia são necessários para a pessoa reencontrar um equilíbrio e ter vida com qualidade, no entanto, sem intervenção fica mais difícil esse equilíbrio.
E a fase do pós-trabalho, se não bem administrada pode ser a “porta aberta” para essa doença, como outras sintomáticas da falta de expectativa de vida.
Então, empresários e profissionais, adultos e jovens ainda mesmo no início de carreira, que tal começar a traçar um plano para quando vier o momento de mudar a vida e de objetivos? Que tal começar a criar uma estrutura e reservar parte de seus recursos (financeiros e pessoais) para tal? Para quem quiser um apoio profissional, o Coaching é um processo bastante indicado para traçar essa meta.
Essa outra fase da vida não é somente parar de trabalhar. É mais do que isso. Inclui ter saúde, expectativas e motivação. Por isso a importância dos cuidados com a alimentação, a prática de esportes, caminhadas; vida social – encontro com amigos (e preservá-los sempre); vida familiar com qualidade; atividades “do bem” (trabalho voluntário); e é claro, equilíbrio e segurança financeira. E, tão importante quanto tudo isso, “é saber o que se pode fazer com o que se é hoje”.
Os conhecimentos adquiridos serão fartos. Evidentemente o mundo caminhou e muita coisa mudou, mas experiência vivenciada ainda tem seu valor. É aquela sabedoria que só tem quem já experimentou.
Então, para quem quer continuar fazendo algo, produzindo, o que se pode fazer com esses conhecimentos? Como transmiti-los aos mais jovens e como agregar ao novo? Opções não faltam.
E para quem não quer fazer nada de fato, o mundo é grande e muito bonito e as pessoas e culturas são realmente fantásticas.
Que tal conhecer tudo isso?
Eline Rasera, psicóloga, coach e professora do curso de Pós-graduação em Administração de Empresas da IBE-FGV.