“Quantas vezes você já foi visitado, espontaneamente, pelo seu contador”? A pergunta do especialista em vendas e atendimento, William Caldas, resume um erro crucial identificado por ele em boa parte dos escritórios contábeis, ou seja, não dar o devido valor ao aspecto comunicação no seu relacionamento diário com um cliente que, na maioria das vezes, entende vagamente o significado das palavras débito e crédito, e olhe lá.
“O que é óbvio para um prestador de serviços muitas vezes é grego para quem ele atende, e isso requer uma nova postura por parte de um segmento como o contábil, que ainda se demonstra tímido até mesmo na hora de mostrar os prejuízos e dissabores que sua eficiência é capaz de evitar, ao longo de um ano de trabalho, sob a forma de contratempos inexistentes com o fisco, por exemplo.
Mudar essa realidade tem sido o foco do trabalho de profissionais como Anderson Hernandes, empresário contábil há vinte anos e autor de nove livros, sendo o mais conhecido deles o “Marketing Contábil 2.0”.
Ele concorda com William, quanto à necessidade de mudanças profundas na forma de o segmento se relacionar com o mercado. Segundo ele, é essencial o processo de readequação das empresas contábeis para garantir não só a sua sobrevivência, como a própria perpetuação do negócio.
“Ainda falta ao segmento entender que, assim como o fisco mudou sua postura quanto à forma de receber as informações, o mercado também reclama por uma maneira igualmente diferenciada de ser atendido. Além disso, as empresas contábeis precisam se conscientizar de que têm nas mãos um negócio e não uma ilusão, o que requer uma administração profissional, com metas, métricas de resultados e indicadores de desempenho, dentre outras ferramentas”, diz ele.
Eventos
Menos de um mês após sua estreia, passando pelas cidades de Porto Alegre, Belém do Pará, Belo Horizonte, Divinópolis e São Paulo, o Workshop Contador 2.0 é um claro exemplo de que profissionais e empresários da área estão se reunindo justamente com essa finalidade: discutir estratégias para adaptar seus modelos de negócio às principais ameaças e oportunidades que se apresentam hoje ao setor.
“Não basta entender os detalhes do SPED ou do eSocial para ser bem-sucedido neste segmento hoje em dia. O contador precisa saber como administrar seu negócio, compreender suas forças e fraquezas e, em última análise, descobrir a melhor forma de aumentar receitas e reduzir custos, ao atender clientes cada fez mais satisfeitos”, sentencia Roberto Dias Duarte, mentor e ministrante do curso.
Autor de cinco livros relacionados à área, com mais de 500 palestras ministradas pelo Brasil, o atual sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franchising considera que, embora apenas 20% das organizações do gênero atentem para as questões estratégicas do negócio, existe uma clara tendência de crescimento deste percentual, conforme revelou pesquisa realizada por ele antes de iniciar a série de workshops. Agora, essa constatação vem se confirmando durante o treinamento, aplicado durante um dia e em período integral (das 8h00 às 18h00).
Segundo o estudioso, é igualmente reduzido o número daquelas que consideram diferenciais competitivos os serviços personalizados (33%) e especializados (17%), enquanto ’incríveis’ 77% ainda acreditam que calcular corretamente os tributos a serem recolhidos se inclui entre suas principais qualidades.
“Este cenário evidencia dificuldades na conversão de um perfil exclusivamente técnico do profissional da contabilidade para um caráter mais empreendedor. Contudo, está claro haver um processo de mudança já em andamento e que a sustentabilidade dos negócios contábeis depende desta transição”, afirma Duarte.
Para favorecer a conscientização em torno deste quadro, o curso aplica conceitos de planejamento estratégico, Bussiness Model Generation (Canvas) e Balanced Scorecard (BSC). “A combinação dessas metodologias permite aos empreendedores interagir de forma dinâmica, chegando ao final do dia com um esboço de plano estratégico para um escritório contábil, indicadores de desempenho para a sua gestão e a proposta de um modelo de negócio”, explica o especialista.
A próxima edição do Workshop Contador 2.0 será em 26 de março, na cidade de Fortaleza, evento promovido e organizado pelo SESCAP Ceará. Mais informações sobre inscrições podem ser obtidas pelo telefone (85) 3031-4263 ou via e-mail: amanda.unisescap@sescapce.org.
Depoimentos
Em sua sexta e mais recente edição, realizada no início de março na capital paulista, o evento reuniu uma amostragem significativa de contadores, empresários da área e também de segmentos afins, nitidamente incomodados com a forma como a evolução do setor tem se apresentado.
“Eu pensei que seria uma coisa mais ‘fala-e-escuta’, mas o que vi aqui hoje foi uma troca muito grande de informações entre as pessoas, algo bem diferente do que já visualizei por aí. Não é propriamente uma palestra, mas sim um treinamento focado em dar um norte para os contadores”, opina Lafaiete Dias de Lima, coordenador comercial da Certisign, empresa parceira da iniciativa.
“Resolvemos participar quando percebemos que o Roberto estava falando exatamente aquilo em que acreditamos, ou seja, os modelos tecnológicos mudaram e os contadores podem ser muito mais produtivos ao empregar tecnologia, o que levou nossa empresa a desenvolver aplicativos gratuitos para eles e seus clientes, em substituição ao famoso ‘envelope pardo’ do passado, recheado de papeis”, diz Marcelo dos Santos, CGO (Chief Growth Officer) da ContaAzul, outra apoiadora do Workshop.
Dentre os participantes, divididos em grupos durante a atividade, Luiz Fabiano da Cruz igualmente achou interessante a conotação de tecnologia e modernidade percebida por ele no encontro. “Nós seguimos o Roberto já há um bom tempo, e o tema Contador 2.0 chamou a atenção, com a aplicação de técnicas de planejamento para a prática da gestão em nossa área”, observa o sócio-diretor operacional da paulistana Quality Score.
Já Simoni Luduvice, da Filadélfia Contabilidade, se interessou mais pelo aspecto segmentação do mercado. “São muitos os nichos existentes e poucos deles vêm sendo explorados”, reconhece a contadora responsável desta empresa paulistana.
Enquanto isso, Roberto Aragão não se queixava nenhum pouco por ter percorrido os mais de 2,5 mil km que separam São Paulo de sua Santa Cruz do Capibaripe, em Pernambuco. “O que me trouxe aqui foi a busca por profissionalização, tratando o escritório realmente como empresa. E, para conseguir isso, é necessário o máximo possível de informações sobre o nosso ramo de negócios”, justifica o sócio da A.Cont Assessoria Contábil. “Valeu cada centavo”, arrematou o empresário, visivelmente satisfeito com a experiência vivida.