Embora o mercado contábil seja conhecido pela complexidade das constantes alterações legislativas e pela dinâmica própria da atividade, parcela considerável das empresas deste setor ainda está longe de operar com o mínimo de profissionalização de seus colaboradores e processos. Este cenário geral, no contexto do empreendedorismo brasileiro, reflete-se nas 48.793 organizações contábeis registradas no Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Recente levantamento on-line que realizei com empreendedores da área mostrou que perto de 70% dos empresários apontam como seus principais diferenciais o cumprimento rigoroso das obrigações acessórias e o cálculo correto de tributos. Apenas 19% estabelecem plano de ações estratégicas e realizam seu monitoramento periódico.
Ora, então como esses quase três quartos do mercado contábil poderiam estabelecer um patamar de competição diferente da disputa pelo menor valor? A lógica diz que se há oferta de serviços similares, a demanda pressiona, naturalmente, por menores preços. Intervenções artificiais, por meio de normas reguladoras, apenas agravariam o problema, fragilizando ainda mais a competitividade do setor. A solução para situações como esta passa, imprescindivelmente, pela introdução de inovações em processos e serviços.
Pesquisa da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon) indica que 54% dos escritórios contábeis sequer têm sites “próprios”. Como inovar no atendimento a clientes e obter receitas mais consistentes, em plena era digital, sem fazer uso das tecnologias da informação e comunicação?
Neste sentido, torna-se evidente que quase 80% das empresas contábeis nem ao menos medem sua capacidade de inovação. E como diz Peter Drucker, o homem que inventou a administração, segundo a revista Business Week, “não se gerencia o que não se pode medir”. Portanto, a maior parte dessas organizações precisa alinhar-se, com urgência, aos padrões globais de gestão. Sem isso, não há como esperar a valorização dos serviços contábeis.
A inovação em serviços, produtos e processos reverte-se, necessariamente, em fortalecimento da competitividade, libertando as empresas da competição por preço, que geralmente atinge patamares canibalizadores. Para isso, o primeiro passo é a capacitação dos empreendedores do setor.
Hoje, o mundo caminha para o uso do conceito de ominchannel, em que o atendimento aos clientes passa por todos os canais, físicos ou eletrônicos. Usar somente telefone, reuniões presenciais e motoboy, além de elevar os custos e riscos dos escritórios, limita significativamente o processo de excelência no atendimento aos clientes.
Para mensurar a efetividade do relacionamento dos escritórios contábeis com seus clientes, tenho utilizado a metodologia Net Promoter Score (NPS). As notas obtidas até o momento têm sido muito baixas ou mesmo negativas. Isto indica que os clientes atuam mais como detratores do que promotores. Se esta tendência foi constatada, significa que, ao contrário do desejável, há mais empresários denegrindo que indicando seus contadores.
A urgente necessidade de profissionalização das organizações contábeis é a passagem mais promissora para transformar o escritório em empresa na prática. Afinal, não se constrói este caminho sem muito trabalho e estudo.
O empreendedor é um insatisfeito que transforma seu inconformismo em descobertas, os problemas em oportunidades, segundo Fernando Dolabela, referência nacional no assunto. O insatisfeito que só reclama dos honorários e espera que o mundo o valorize, não é empreendedor. A atitude empreendedora eleva consideravelmente as chances de transformar eminente fracasso em sucesso retumbante. Criar inovações para atender os clientes com excelência é a melhor forma de diferenciar-se dos concorrentes – só assim será possível agregar valor às competências profissionais e não somente elevar o preço da fatura mensal.
(*) Roberto Dias Duarte é sócio e presidente do Conselho de Administração da NTW Franchising, primeira franquia contábil do país.