Estresse, ansiedade, medo, a novidade do trabalho remoto e incertezas sobre o mercado de trabalho são alguns dos principais fatores que têm acompanhado a vida dos brasileiros. Diante deste momento que estamos vivenciando, como o departamento de Recursos Humanos do setor de Saúde deve atuar com os seus colaboradores, que são a grande frente de trabalho na luta contra a pandemia, e que se tornaram os verdadeiros heróis dessa crise global?
Afinal, quando uma pessoa entra em uma instituição para receber serviços de saúde, entrega o seu bem mais precioso, a vida. Muito provavelmente, nenhum gestor de pessoas em Saúde, ou mais especificamente nenhum administrador de serviços em hospitais, recebeu um treinamento ou mesmo uma aula sobre como atuar de forma assertiva frente a uma pandemia, muito menos pensando na realidade atual frente à Covid-19.
“Mais do que nunca, para assistir vidas é fundamental se reinventar, inovar, descartar padrões que não se adaptariam ao cenário atual de urgência, envolver, ouvir, comunicar, trabalhar em equipe, prever cenários, agir em situações inesperadas e construir resultados através do acúmulo de competências coletivas, são os pilares e sustentação para o enfrentamento a esse cenário”, afirma a professora da IBE Conveniada FGV, Patricia Pousa - especialista em carreira e gestão de pessoas.
Para ela, a situação exige competências estratégicas visando a melhor forma de atravessar a crise. É preciso levar em conta a manutenção e qualidade de vida das milhares de vidas envolvidas, pensando não somente na saúde física, mas mental e emocional também.
“A situação traz à tona tudo aquilo que lemos e que até então, pensávamos já conhecer do famoso ‘mundo VUCA’, com cenário volátil, incerto e complexo, agudizado repentina e drasticamente em todos os setores, mas de forma particular e especial, na nossa área da saúde hospitalar. Sem tempo para muito planejamento estávamos frente a frente com mudanças bruscas e com a nobre e desafiadora missão de alinhar as necessidades da empresa, pacientes e nossos profissionais”, destaca a professora, que também atua como gestora de RH em uma empresa de saúde.
O papel do RH
De forma decisiva, uma série de ações se inicia com a premissa do comprometimento e responsabilidade da alta liderança. Depois, é necessário “desdobrar e cascatear” ações através do inter-relacionamento com as áreas e equipes quem contam com vários serviços dentro do segmento e que resultam na construção, participação e desdobramentos efetivos de comitês e comissões através de diretrizes, fluxos, protocolos e processos.
“Muitos grupos de whatsapp, comitês de gestão de crise, comunicação, materiais e medicamentos, saúde mental e treinamentos são formados para facilitar a interação, construção, comunicação e os corretos alinhamentos. Também é indicada a participação em grupos análogos da gestão de pessoas com atuação da área hospitalar”.
Ainda segundo a professora, agregado a isto, é preciso muito esforço, dedicação, orientações dos “donos dos processos” e trabalho intenso de horas, “com as forças renovadas pelo propósito e pela certeza que neste momento temos que ser os protagonistas na história de sobrevivência de muitos”.
“Precisamos de todos os setores, processos e profissionais, afinal, somos um time. Não será fácil, mas é possível, principalmente quando estamos juntos e unidos no mesmo propósito”.
Confira mais dicas da especialista:
- É necessário um planejamento integrado, com o envolvimento de todo o time. Um plano de ação “vivo”, mutável e com acréscimo de linhas nas planilhas de mais ações, detalhamentos e mudanças acrescentados diariamente, às vezes, em questão de horas.
- Após esta largada, um esforço gigantesco para captação de novos colaboradores, através de várias iniciativas e ferramentas, buscando os muitos profissionais no mercado com as competências para compor o quadro de pessoal.
- Monitoramento diário da taxa de ocupação do serviço, a complexidade dos pacientes, a performance dos colaboradores, num trabalho de grande engajamento e com a expertise da enfermagem, processos de apoio e da área da qualidade e segurança do paciente.
“Treinar, treinar e treinar os recém-contratados e o quadro de colaboradores existentes. Utiliza-se para isto técnicas e ferramentas diversas, tais como treinamentos presenciais, práticos, informativos em murais, vídeos, plataformas e sempre procurando avaliar a eficácia destes treinamentos”, explica Patricia
- Permeando toda a nova realidade, o SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) reafirma seu papel fundamental e escopo intenso para garantir entendimento e adequação nos fluxos de dimensionamento, entrega e orientação de EPIs, com a implantação e regulação de fluxos e acesso dos profissionais para tratar e prevenir sua saúde, tanto os que apresentam sintomáticos e assintomáticos com relação à Covid-19.
“Outra questão crucial é a definição do Programa de Saúde Mental a todos os profissionais de saúde com ações específicas à pandemia, com apoio psicológico, espaços de escuta e acolhimentos individuais; consultas online para os profissionais que testarem positivo para a doença, espaços de reconhecimento; frases motivacionais; atividades lúdicas; protocolo para acolhimento em casos de óbitos”.
- Adequação e aumento da estrutura de suporte aos colaboradores, tais como locais e espaços de alimentação, de conforto e descanso, vestiários, chuveiros, todos com as devidas orientações de acesso.
- Os canais de comunicação e acolhimento, mais do que nunca, ganham papel importante ao acesso e ao alcance de todos os profissionais da saúde, para que recebam continuamente informações clara e transparentes, incluindo boletins epidemiológicos, com a coerência entre o discurso, cultura e valores organizacionais.
“Acredito que os últimos 45 dias da gestão de pessoas no segmento hospitalar daria um livro, mas agora, cabe o foco em aspectos gerais que possam desde já contribuir de maneira factível. Amanhã, com certeza novos e inéditos conteúdos já poderão ser divididos e compartilhados. A nova parte da história está sendo escrita por nós. Por isso, sinta-se muito à vontade para contribuir e agregar”, finaliza Patricia Pousa.