Seja em notebooks, celulares, e agora, em eletrodomésticos e automóveis, os semicondutores, ou mais conhecidos como chips, estão presentes na vida da maioria das pessoas direta ou indiretamente, fornecendo conexão e comodidade para o seu dia a dia.
Diferente do que muitos pensam, esses pequenos componentes vitais para toda a tecnologia não são abundantes. Nos últimos tempos eles têm se tornado escassos, graças a uma demanda que não conseguem atender, agravada de formas preocupantes graças à pandemia. Mas aí vem a pergunta: “o que o coronavírus tem a ver com isso?”. Praticamente, tudo.
O isolamento social tem sido um dos principais instrumentos na luta contra o coronavírus, e, para facilitar essa quarentena forçada dentro de casa, as pessoas têm apelado cada vez mais para aparelhos mais sofisticados e potentes, seja para entretenimento, ou para atender à demanda de home office, que tem crescido exponencialmente desde o início da pandemia.
Com isso, a demanda global se tornou praticamente insustentável, de forma que algumas empresas até começaram a paralisar produções, ou adiar grandes lançamentos previstos para este ano, e, segundo especialistas, as projeções são um pouco preocupantes.
Celulares
A gigante Samsung anunciou recentemente que a grande crise atingiu sua produção de TVs e outros aparelhos. “Devido à escassez global de semicondutores, também estamos experimentando alguns efeitos, especialmente em torno de certos conjuntos de produtos e produção de telas”, afirma Ben Sun, chefe de Relações com Investidores da Samsung, em uma ligação com analistas. Ele ainda sugere que a crise pode adiar o lançamento do Galaxy Note.
A sua concorrente Apple também não pode cantar vantagem, pois a empresa tem sofrido para alavancar o recém-lançado iPhone 12, devido à falta de chips, e, como se não bastasse, a companhia ainda confirmou que irá adiar a produção de iPads e MacBooks, devido à escassez de peças
Videogames
Devido a um período de alta, o segmento gamer também está sofrendo dificuldades na produção, seja nos consoles como PlayStation 5, Xbox Series X/S e Nintendo Switch, ou nos periféricos de computadores, como placas de vídeo, fones, processadores e outros. Mesmo que ache estes componentes, vai ter de desembolsar uma quantia realmente grande para adquiri-los, devido à falta de mercadoria no estoque.
Internet das Coisas
Estes componentes são essenciais para que a Internet das Coisas, ou smart house, funcione. Sem eles, é praticamente insustentável manter essa indústria de eletrodomésticos inteligentes e conectados cada vez mais em alta, que, graças à crise, teve uma desaceleração significativa em suas linhas de produção.
Pet
Sim, acredite se quiser, até mesmo o mercado Pet foi atingido por esta crise. Segundo o jornal norte-americano The Washington Post, a CSSI, produtora de cabines eletrônicas para banhos em cachorros, foi informada por seu fornecedor de placas que os chips utilizados no processo de fabricação não estão mais disponíveis.
Automóveis
Os carros têm se tornado cada vez mais automatizados, o que demanda uma grande quantidade de chips para que isso possa ser possível – desde gerenciamento de motores até sistemas de assistência a motoristas.
Sentindo o impacto, a Hyundai paralisou a produção em uma unidade da Coreia do Sul, juntamente com a Tesla, empresa do bilionário Elon Musk, que interrompeu a fabricação do Model 3, nos Estados Unidos. Apesar da mudança de localidades, o drama permanece o mesmo.
Uma das alternativas encontradas por alguns fabricantes foi retirar algumas tecnologias de ponta de seus veículos, como foi o caso da Nissan, que tirou o sistema de navegação de carros que tinham este sistema. As picapes da Ram Trucks também sofreram exclusão dos retrovisores inteligentes, que costumavam vir atrelados aos veículos.
A empresa TSMC, uma das principais fabricantes de chips do mundo, acredita que é capaz de atender toda a demanda para automóveis até junho deste ano. Porém o diretor de Tecnologia da Informação da Plurimi Investment Managers, Patrick Armstrong, relata que o cronograma é ambicioso.
Segundo ele, a crise dos chips pode se estender por mais 18 meses até conseguir toda a demanda, e ainda diz em publicação da Época Negócios: “Se você ouvir Ford, BMW e Volkswagen, todos eles destacaram que há gargalos de capacidade e que eles não podem obter os chips de que precisam para fabricar os novos carros”.
Devido ao grande aumento de preços de veículos, uma das saídas mais viáveis para quem ainda precisa andar é o aluguel de carros no DF, SP e RJ, por exemplo -- locais que, de acordo com dados do DETRAN, concentram uma das maiores quantidades de carros do país.
Mas existe saída para isso?
Nada dura para sempre – até mesmo as coisas ruins. O consenso dos executivos de grandes empresas como TSMC, AMD, Stellanis e outras, ao serem confrontados sobre o fim da escassez de chips, é praticamente unânime: somente em 2022.
Mas, para tentar solucionar esta situação, Estados Unidos, China e União Europeia tentam aumentar a capacidade de produção destes componentes para atender a demanda. Para termos uma noção, o bloco europeu é responsável por menos de 10% da produção global e pretende aumentar para 20%, graças a um investimento aproximado de US$ 24 a US$ 36 bilhões.
A atual administração dos Estados Unidos não quer ficar para trás, e pretende investir US$ 50 bilhões em pesquisa e produção dos chips semicondutores para as empresas norte-americanas.
Nos países asiáticos, o investimento pesado na construção de fábricas de chips e o aumento de estoques de componentes para suprir a demanda do mercado podem se mostrar preocupantes, porque isso dificulta a obtenção de chips pelas outras empresas do setor.
Mas a questão é torcer para que não haja um agravamento ainda maior da crise e que as medidas consigam ao menos suprir a demanda. Até lá, o jeito é pensar em comprar estritamente o necessário e buscar saídas para quem precisa poupar.