A pandemia de coronavírus impactou praticamente todas as áreas do mundo, e, com a linha de produção de automóveis, não poderia ser diferente. Com a queda da demanda dentro do mercado externo e interno, por conta do crescimento de casos da pandemia, diversas fábricas fecharam.
Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a pandemia fez com que 13 das 23 montadoras de automóveis ao redor do país paralisassem suas atividades parcial ou totalmente, somando 29 fábricas paradas de cerca de 58 no total.
Graças a essa situação, que realmente preocupa o mercado, cerca de 65 mil funcionários – o equivalente a 60% da mão de obra do setor – se encontram em casa, segundo dados da CNN Brasil. Estes dados não levam em conta quem já estava em home office.
Essas paradas no setor automotivo, um dos principais do país, impactaram diretamente na projeção do PIB (Produto Interno Bruto), que já vinha com um desempenho ruim desde janeiro, aliadas também à piora na pandemia e ao avanço a passos de tartaruga da vacinação em todo o território nacional.
Durante o início do ano de 2021, a projeção do mercado para o avanço do PIB estava em 3,4%, após a queda brusca em 2020 de 4,1%. Este cenário de incerteza levou muitas empresas a começar a repensar novamente seus próximos passos.
Zona Franca de Manaus duramente atingida
Até mesmo uma das regiões que mais produzem peças e equipamentos no Brasil encontrou momentos difíceis durante a pandemia. Pelo menos quatro fabricantes de motocicletas paralisaram temporariamente a fabricação, e as que não pararam tiveram de se readaptar ao toque de recolher, imposto para evitar a proliferação do vírus, segundo dados da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
Grande parte desta crise deriva de uma outra, não menos importante, que deve ser levada em consideração ao falarmos de paralisação de produção de automóveis e produtos relacionados.
A falta de chips em escala global
É praticamente impossível hoje em dia encontrar um eletrônico, seja ele qual for, que não possua ao menos um chip, ou microchip, dentro de sua composição. Tais peças auxiliam na conectividade com outros aparelhos, ou são essenciais para suas funções normais também.
Os carros elétricos, cada vez mais comuns em todo o mundo, demandam uma quantidade exorbitante destas peças. Segundo o especialista em prática automotiva da consultoria Mark Wakefield, “hoje, um modelo médio conta 1.400 microchips, e este número só vai aumentar, na medida em que a indústria continua sua marcha em direção aos veículos elétricos, cada vez mais conectados e, eventualmente, autônomos”.
Grande parte disso se deve ao fato de que a maior fabricante e distribuidora destes equipamentos, que seria a China, está priorizando mais o seu mercado interno em uma retomada econômica, em detrimento de exportação para outros países, que, apenas com a crise, começaram a se movimentar para perceber que um material tão importante não deveria ficar à mercê de apenas um país.
O bloco europeu pretende aumentar o investimento de fabricação de chips em 20%, um valor que varia aproximadamente entre US$ 24 bilhões e US$ 36 bilhões. Os Estados Unidos pretendem também investir US$ 50 bilhões em pesquisa e produção de chips semicondutores para a economia interna.
E como ficam as concessionárias?
A saída da Ford do cenário nacional pegou o país inteiro de surpresa após 100 anos que sua primeira fábrica foi instalada. Ela disse que sairia por prazo indeterminado do país, paralisando imediatamente suas fábricas em Camaçari (BA), Taubaté (SP), Horizonte (CE) e São Bernardo do Campo (SP).
Com isso, foi instaurado o medo de que os carros da marca viessem a se desvalorizar, porque os serviços de pós-venda dos veículos seriam incertos e, consequentemente, a procura por modelos da marca iria se tornar cada vez mais escassa.
A Ford foi apenas o grande exemplo das grandes volatilidades que os donos de concessionárias tiveram de passar durante as desventuras da pandemia. Com o fechamento de grande parte das lojas, as vendas de veículos novos caíram 26,6% no ano de 2020.
Em 2021, segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o mercado de janeiro para dezembro caiu 30,17%, e o emplacamento, no primeiro mês do ano, ficou em 232.795, enquanto no último era de 162.567.
Com a crise dos semicondutores, o aumento de taxas, a inflação e ainda uma pandemia que força as pessoas a usarem menos veículos, quando grande parte das empresas começou a adotar o home office, isso faz com que os carros passem a ter tanta procura e, consequentemente, menos vendas para os donos de concessionárias.
Mas tudo está realmente perdido?
Não, não está. Segundo o último Relatório de Mercado Focus, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) estão em alta. A expectativa no comércio este ano estava em 5,25% e com elevação para 5,27%. O PIB também cresceu de 2,09% para 2,10%.
Entretanto, apesar de serem boas notícias, estas são ainda melhores. Ainda no relatório da Focus, a projeção para a produção industrial de 2021 foi elevada de 6,29% para 6,36%. Estes dados são um ótimo sinal de que a indústria, apesar de devagar, ainda encontra caminhos para se reerguer.
Apesar de os olhos de todos estarem sempre nos automóveis, sejam eles carros ou motocicletas, estas pausas são de grande prejuízo para grande parte dos empreendedores relacionados ao mercado automotivo, porém existem ainda alguns acessórios que não dependem tanto de elementos que estão em falta, como capacetes LS2, ou de qualquer outro tipo, bancos e por aí vai.
Com isso, grande parte dos empreendedores tem a difícil tarefa de ter de se reinventar durante um cenário tão catastrófico se não quiser quebrar. Felizmente, estes cenários são passageiros, e, segundo projeções, ainda conseguiremos dar a volta por cima, mesmo que isso leve algum tempo.