Completando 10 anos como empresário do setor de crédito e cobrança, tenho feito algumas reflexões sobre as principais transformações ocorridas no período. Foi apenas quando abri meu próprio negócio, em 2012, que pude ter uma perspectiva mais geral da evolução do mercado. E de lá para cá, as mudanças foram enormes.
Naquela época, a concessão de crédito era baseada em uma decisão binária: aprovado ou recusado. E ponto final. Era como pegar uma foto, analisar um momento congelado. A alguém que tinha restrição era mais fácil negar o crédito e, por outro lado, para quem tinha “ficha limpa” era bem desafiador determinar o limite do crédito e a condição de pagamento.
Hoje, seria mais como analisar um filme, isto é, levar em consideração o histórico, o contexto e a dinâmica de comportamento do tomador de crédito para então decidir, de maneira mais ajustada, entre o sim e o não. Isso é possível graças a tantos bancos de dados associados a tecnologias que ajudam a compor um perfil, a definir um score (como chamamos a pontuação nos birôs de crédito) e assegurar bons negócios para ambas as partes.
Antigamente, era mais restrito o acesso a dados de inadimplência. Unificados, formavam uma lista de contatos valiosa para as instituições que ofereciam soluções às pessoas negativadas. Foi assim que bancos e associações comerciais deram origem aos primeiros e mais famosos birôs do Brasil, mas essa fama veio sendo associada a uma imagem bem aterrorizante - ninguém queria nem imaginar ter seu nome “sujo”, listado no cadastro dessas instituições.
Contudo, com a chegada do Cadastro Positivo em 2013, começou a acontecer uma transformação significativa, a meu ver. Não parecia justo que um bom pagador que, eventualmente, estivesse com um único boleto em atraso, tivesse um financiamento imobiliário negado, por exemplo. A novidade foi agregar informações abrangentes e positivas para - usando a mesma analogia de filme - compor um documentário mais realista, em vez de se apegar a uma foto mal tirada.
Começou assim a renovação da imagem dos birôs. Gosto da expressão “birô amigo”, pois atualmente eles têm um papel, de fato, muito mais colaborativo. Um bom score que estabelece uma relação de confiança e pode ajudar o tomador de crédito a conseguir taxas de juros mais baixas, ofertas especiais (de cartões de crédito, por exemplo) e outros benefícios creditícios por ser um bom pagador. Na outra ponta, o ativo valioso para quem concede crédito são os “positivados”, um público que geralmente apresenta menos questões de inadimplência e desgaste com cobrança.
O Cadastro Positivo é um avanço significativo, que pode impulsionar ainda mais a economia, principalmente a partir de 2019, quando ficou a critério particular solicitar o descadastramento. Além disso, a estreia do Open Finance também empoderou pessoas físicas e jurídicas em relação ao controle de dados e informação a ser usada pelas empresas credoras cada vez mais para beneficiar e não causar impedimentos para o cliente.
Por fim, pontuaria a evolução tecnológica, tanto no sentido de análise quanto no de segurança da informação, como catalisador dessas transformações. Há muitas questões envolvidas na proteção e no controle de vazamento de dados, mas gosto de citar a biometria facial como uma das maiores aliadas da política antifraude. Com velocidade e precisão, essa tecnologia já é tão confiável em garantir que uma pessoa é quem realmente diz ser que tem até validade jurídica. É certo que nada é completamente inviolável, mas, nesse caso, uma fraude é quase impossível - a não ser no imaginário dos filmes de ficção científica que contam com recursos improváveis mesmo nos próximos 100 anos.
*Hederson Albertini é CEO e fundador do birô de crédito Assertiva Soluções