Levantamento da Fundap indica que companhias com ações negociadas em Bolsa estão prestes a alcançar os ganhos de 2005/2007
A crise já é passado para a maioria das companhias brasileiras com ações negociadas em bolsa. Levantamento da Fundação de Desenvolvimento Administrativo (Fundap) aponta recuperação significativa da margem de lucro das empresas. Analistas acreditam que os balanços do primeiro trimestre, que começam a ser divulgados em breve, vão mostrar a superação da crise.
Vinculada à Secretaria de Gestão Pública do governo do Estado de São Paulo, a Fundap avaliou os resultados de 222 empresas de capital aberto: 139 da indústria, 13 do comércio e 70 de serviços. Na média, a margem de lucro das empresas (relação entre lucro líquido e receita líquida) subiu de 5,6% no quarto trimestre de 2008 para 10,8% no último trimestre de 2009.
Entre 2005 e 2007, a margem de lucro média foi de 12%. Segundo Geraldo Biasoto Junior, diretor executivo da Fundap, esse padrão de ganho do período pré-crise está em vias de ser alcançado, e isso pode ter ocorrido já no primeiro trimestre. Um sinal é o bom desempenho da produção industrial e do varejo.
Até o fim de 2009o, a recuperação dos ganhos das empresas podia ser atribuída ao desempenho financeiro. No ápice da crise, no quarto trimestre de 2008, o peso da despesa financeira na receita líquida chegou a impressionantes 10,7%. No quarto trimestre de 2009, esse indicador retrocedeu a 2,5%, praticamente igual à média de 2,6% de 2005 a 2007.
"As empresas sofreram um baque financeiro forte com a crise", comenta o professor da Unicamp, Júlio Sérgio Gomes de Almeida. A desvalorização abrupta do real elevou as dívidas em dólar. Além disso, muitas companhias tiveram prejuízos com os derivativos cambiais.
O processo foi neutralizado nos últimos meses, porque o real voltou a ganhar valor. Além disso, o governo reduziu a taxa Selic e elevou o volume de financiamentos do BNDES. Esse pacote contribuiu para reduzir os juros pagos pelas empresas. "As dívidas das companhias mudaram qualitativamente", diz Biasoto.
Atividade. Enquanto os ganhos financeiros melhoravam, as empresas encontraram dificuldade para obter melhores resultados no próprio negócio. A relação entre o lucro da atividade e a receita líquida ficou em 15,7% no quarto trimestre de 2009, igual ao quarto trimestre de 2008. A média de 2005 a 2007 é de 20%.
Para Almeida, a concorrência dos importados e o excesso de capacidade produtiva impediu reajustes de preços. Os analistas acreditam que isso mudou no primeiro trimestre. Biasoto avalia que a alta da inflação é um sinal de que a recuperação consistente da economia abriu espaço para remarcações de preço.
"As empresas vão buscar esse aumento do lucro da atividade a qualquer custo", observa Biasoto. Ele avalia que é "natural", porque as companhias ainda pagam altas taxas de juros por seu capital de giro. E, por isso, precisam de taxas de retorno expressivas.