Nº edição: 682 | Planejamento | 29.OUT - 17:00
Sua saúde é algo valioso demais para entregar nas mãos de qualquer um. Sempre é recomendável consultar um médico, profissional especializado para tratar os problemas do corpo.
O mesmo vale para o seu bolso. O especialista que cuida da saúde do seu dinheiro é o planejador financeiro. Profissional com atuação relativamente recente no Brasil, mas uma tradição nos Estados Unidos, o planejador previne, diagnostica e cuida de problemas financeiros, mantendo a saúde de suas finanças.
Por aqui, a profissão é antiga, mas vinha sendo praticada com uma razoável dose de curandeirismo. A demanda pelos serviços explodiu a partir de 1994, após o Plano Real. “As famílias puderam começar a se planejar”, diz Raymundo Magliano Neto, diretor da feira de investimentos Expomoney.
Com a estabilização da economia, o brasileiro passou a pensar no futuro. Surgiram os primeiros planos de previdência privada e aumentou o interesse por investimentos de longo prazo.
A profissão de planejador só foi regulamentada em 1999, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a exigir que os administradores de carteira tenham sua competência certificada. Agora, a CVM quer estender a obrigatoriedade para os agentes autônomos, que representam as corretoras de valores.
Há várias certificações possíveis, concedidas por entidades como a Anbima, o IBCPF e a Apimec. “A certificação serve como referência para os clientes”, afirma a consultora Eliana Bussinger.
No entanto, há profissionais reconhecidos no mercado que não a possuem. Ter um diploma ajuda, mas não é garantia de bons conselhos. “O ideal é procurar pessoas preparadas que apresentem referências”, diz Eliana.
Se o profissional que você escolher também for um vendedor de produtos financeiros, é recomendável acrescentar uma dose de cautela às prescrições dele e conferir o desempenho das aplicações recomendadas.
Em que casos receita-se o uso do planejamento financeiro? “O planejador financeiro é parecido com um personal trainer”, diz o consultor Gustavo Cerbasi, que atendeu 750 famílias entre 2001 e 2008 e hoje se dedica a realizar palestras sobre o assunto.
“Quanto mais grave a situação, menor o conhecimento financeiro e maior a preguiça, maior é a necessidade de contratação de um consultor.”
As indicações mais comuns são em momentos de transição – casamento, nascimento dos filhos, separação, aposentadoria – ou no caso de alguma surpresa financeira, como o recebimento de uma empresa ou uma proposta vantajosa para deixar o emprego, por exemplo. “Sempre há mais de uma alternativa para investir o dinheiro”, diz a consultora Sandra Blanco, que trabalha como planejadora financeira desde 2000.
Contratar um profissional tem duas grandes vantagens. A primeira é contar com uma pessoa que possui conhecimento técnico dos produtos de mercado, o que facilita na hora de decifrar a letra miúda.
A outra é que a decisão será tomada de maneira fria e racional. “Um especialista não está envolvido emocionalmente no problema e ajuda o cliente a ver a questão com outros olhos”, diz o planejador Fabiano Calil. “O profissional evita que o sonho se transforme em um pesadelo, por erros de execução ou de planjeamento.”
Ao contratar um planejador, o paciente abre sua vida financeira, conta seus problemas, compartilha seus objetivos. O consultor vai avaliar os cenários, indicar possibilidades, alertar sobre riscos e comentar sobre possíveis oportunidades, normalmente em consultas de uma hora.
Os clientes com menos conhecimento financeiro podem ainda receber uma orientação sobre a maneira de cuidar da saúde do orçamento pessoal e familiar, passos antecedentes a qualquer planejamento de investimentos. O retorno ao “consultório” fica por conta do médico.
E, claro, do comportamento da saúde financeira do paciente. Pode ser em um mês, um semestre ou um ano, dependendo dos diagnósticos. “A recomendação é uma visita anual, que funcione como um check-up”, diz Calil.
É necessário avaliar se o especialista que você escolheu para cuidar do seu bolso também tem hábitos financeiros saudáveis. Há algumas exigências: o profissional não pode julgar as opções e o estilo de vida do cliente.
Também é recomendável uma dose de prudência para lidar com consultores que estejam vinculados a instituições financeiras, já que elas são parte interessada na venda de "remédios" próprios, como fundos de investimento e títulos de renda fixa ou variável. O ideal é que não haja nenhum vínculo, mas, se houver, é preciso que eles sejam transparentes para o cliente.
Os preços pela consultoria variam. A maioria cobra o equivalente a uma consulta médica, com um valor médio de R$ 300. Há aqueles que cobram de acordo com a renda ou o patrimônio do cliente e também é possível contratar um planejador que distribua produtos de investimento de um banco, seguradora ou corretora e ganha uma comissão por eles.
Não é recomendável para todos, mas há casos em que a automedicação é aceitável. “Há uma farta oferta de educação financeira gratuita, como planilhas de orçamento pessoal, oferecidas pelos bancos, pelas revistas e na internet”, diz Cerbasi. “Com disposição e disciplina, é possível recuperar e manter a saúde financeira.”