Saldão da crise: Valor de mercado das maiores companhias da bolsa atinge nível alcançado pela primeira vez em meados de 2007, quando eram bem menores.
Petrobras, Vale, Bradesco, Itaú e Banco do Brasil fecharam a segunda-feira, dia 8, com valor de mercado próximo ao que atingiram pela primeira vez em meados de 2007. De lá para cá, os lucros somados dessas empresas mais do que dobrou, de R$ 55 bilhões para R$ 116 bilhões. E elas continuam valendo a mesma coisa.
Para ilustrar, os R$ 202 bilhões de preço de mercado alcançados pela Vale em maio de 2007, conforme dados da Economática, equivaliam a 11 vezes o lucro líquido e a 9 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) que a mineradora registrou em 12 meses até junho daquele ano.
Esse mesmo valor de mercado de R$ 202 bilhões representava na segunda-feira apenas 4,6 vezes o lucro e 3,6 vezes o Ebitda da Vale no período de um ano até junho de 2011.
O mesmo ocorre com os bancos. O Itaú Unibanco fechou a segunda-feira valendo R$ 107 bilhões na bolsa. A primeira vez que a instituição atingiu esse valor de mercado foi em julho de 2007, bem antes da associação com o rival Unibanco.Naquela época, o banco tinha lucro de R$ 5,4 bilhões em 12 meses. Na semana passada, o Itaú informou que apenas nos primeiros seis meses deste ano teve ganho líquido de R$ 7,1 bilhões. Em 12 meses até junho, a cifra somou R$ 12,4 bilhões.
Em outra comparação, o mesmo valor de mercado deixou de representar 3,8 vezes o patrimônio líquido e passou a equivaler 1,6 vez o patrimônio, próximo do piso atingido no início de 2009.
A análise desses números pode levar a diversas conclusões. Uma delas é que as empresas podem estar muito baratas agora, como uma reação exagerada do mercado diante da crise fiscal europeia. Outra é que os papéis podiam estar muito caros naquela época, com o Brasil se aproximando de ter sua classificação de risco elevada para dentro da categoria de grau de investimento.
Uma outra leitura leva em conta a maneira pela qual o mercado forma o preço das ações: olhando para frente e não para trás.
Segundo o professor do Insper Ricardo Almeida, há quatro anos existia uma forte perspectiva de crescimento no Brasil e no mundo e a questão dos empréstimos imobiliários subprime era considerada de baixa importância.
"Uma análise que se pode fazer é que o valor de mercado que essas empresas tinham refletia a perspectiva de crescimento dos resultados para os anos seguintes, o que de fato ocorreu", diz.
Se o preço atual é o mesmo, afirma ele, é porque os agentes não estão embutindo uma projeção de crescimento tão grande como naquela época.
A perspectiva para os resultados da Vale, por exemplo, podem sofrer pelo fato de que a China pode não crescer no mesmo ritmo dos últimos anos, já que tem problemas com inflação e depende do mercado externo em crise para vender sua produção.
Em relação aos bancos, o professor do Insper diz que, ainda que eles possam continuar crescendo, certamente não será em ritmo igual ao observado desde 2007. "A relação entre o total de crédito e o Produto Interno Bruto subiu de 31% para 47%. Não vai chegar a 70% agora", exemplifica.
Embora afirme que a projeção de crescimento agora certamente é pior do que há quatro anos, Almeida acredita que o mercado confia mais na capacidade do governo de fazer política anticíclica, após a experiência de 2008. "Ao contrário do que ocorreu naquela época, os juros futuros caíram".