A percepção de que a crise econômica deve se arrastar pelos próximos dois anos no mercado global levou os especialistas a reverem as projeções e apostarem que o Banco Central reduzirá a taxa básica de juros (Selic) ainda este ano, conforme antecipou o Correio há duas semanas. Nos últimos dias, diante das perdas expressivas nas bolsas mundiais, os contratos de juros futuros — apostas que os investidores fazem para as taxas em uma data determinada — chegaram a estimar até três reduções da Selic a partir de novembro. Para os analistas, a desaceleração do comércio mundial e a redução dos preços de commodities (produtos agrícolas e minerais com cotação internacional, como a soja e o ferro) refletirão na atividade doméstica, aumentando a necessidade do afrouxamento monetário.
A revisão de projeções também é respaldada por declarações do próprio presidente do BC, Alexandre Tombini. Em conversa com a presidente Dilma Rousseff, ele afirmou que a autoridade monetária está pronta para cortar a Selic e evitar o freio da produção e do consumo. O temor dentro é de que a gravidade do quadro externo leve a economia brasileira à estagnação completa.
Diante da forte desaceleração que se avizinha, a Corretora Raymond James reduziu a estimativa para a Selic e projeta corte de 0,25 ponto percentual na reunião de novembro do Comitê de Política Monetária (Copom). A redução dos juros veio acompanhada da projeção de menor avanço para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, de 4% para 3,6%. "Isso implica uma redução razoável do ritmo da atividade no segundo semestre", disse Maurício Rosal, economista-chefe para a América Latina da corretora.
Nem mesmo a aceleração das vendas do varejo brasileiro em junho (+0,2%) foi insuficiente, na opinião do mercado, para sustentar a Selic em 12,50% ao ano. Os economistas lembraram que os dados retratados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) refletem o passado. Diante do aprofundamento da crise mundial, eles pouco influenciarão as decisões futuras do Copom.