O vaivém das cotações deu a tônica no mercado de câmbio brasileiro ontem, e há a expectativa de mais volatilidade nesta sexta-feira. Na reta final dos negócios, o Banco Central (BC) anunciou que fará hoje, às 10h30, um leilão extraordinário de swap cambial tradicional - papéis cuja colocação equivale à venda de dólares no mercado futuro. O anúncio chamou atenção por ser a primeira vez que a autoridade monetária realiza uma operação que não está dentro do cronograma de leilões de câmbio anunciado há uma semana.
Diferentemente dos dois dias anteriores, a volatilidade de ontem ocorreu em meio a um mercado amplamente comprador de dólares. No fechamento, o dólar marcava alta de 0,94%, a R$ 2,370, depois de oscilar entre máxima de R$ 2,3830 (1,49%) e mínima de R$ 2,3370 (-0,47%).
Hoje a volatilidade tende a se concentrar na parte da manhã, quando o mercado continuará em meio à disputa pela formação da Ptax (taxa de câmbio calculada pelo Banco Central, que serve de referência para a liquidação de derivativos cambiais) de fechamento de agosto. Nesse cenário, não se descarta no mercado que a moeda venha a superar a barreira dos R$ 2,40 no dia.
Segundo profissionais, a disputa pela Ptax já dominou os negócios nas operações de ontem. A taxa será utilizada para a liquidação de contratos derivativos na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Uma Ptax mais alta interessa sobretudo a estrangeiros e investidores institucionais locais, que estão comprados em dólar nos mercados futuro e de cupom cambial.
Em meio a um mercado relativamente distorcido com a disputa pela Ptax, o BC não aceitou ontem nenhuma proposta para realizar a rolagem de linhas de dólares que vencem no início de setembro. Na prática, isso significa uma retirada de liquidez do sistema, já que o mercado terá de devolver os recursos ao BC no próximo dia 2.
Essa menor liquidez, por si só, tem um efeito de pressão de alta na cotação do dólar. No entanto, segundo profissionais do mercado, a não rolagem das linhas conseguiu, no máximo, intensificar a alta da moeda americana, que já vinha em curso.
O profissional de um banco estrangeiro notou que o mercado ainda não está cobrando prêmio para dar liquidez em dólar. O dólar subiu porque voltou "à tendência, que é de alta", afirmou ele. "Os fluxos de entrada podem distorcer temporariamente o dólar, mas não tem como a gente se distanciar muito dos outros emergentes", diz.
O que pode amainar uma eventual valorização da moeda americana são as intervenções do Banco Central.
Com isso, a sessão de hoje contará, no mínimo, com duas atuações do BC, uma vez que a autoridade monetária realizá um leilão de até US$ 1 bilhão por meio de linhas de dólares - este já dentro do cronograma oficial anunciado.
Não bastassem as questões locais, o movimento no mercado global de moeda também influenciou o comportamento por aqui. O dólar subiu ante o euro, o iene e as principais divisas emergentes, impulsionado por dados mais fortes sobre a economia americana, que alimentaram o receio de uma redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos.
Segundo um gestor, outro fator de pressão no dólar a ser considerado é a manutenção do desconforto com a condução da política fiscal brasileira.