As emoções contagiam. Quando uma pessoa despeja sob nós seu lixo tóxico, ativa nossos circuitos que provocam essas mesmas emoções angustiantes. Adquirimos emoções negativas da mesma forma que contraímos uma infecção viral por rinovírus, por exemplo, e esse contágio pode provocar o equivalente emocional de um resfriado de verdade. Talvez você já tenha passado por isso.
Daniel Goleman explica que existe um subtexto emocional em toda e qualquer interação, o que vai gerar a chamada economia emocional: os ganhos e perdas interiores que vivenciamos com algumas pessoas, em uma determinada conversa. E, às vezes, a conversa nem é sua, mas você passou por ali e respirou uma fumaça daquele lixo tóxico para você, já foi suficiente para mexer com o seu emocional, dependendo do seu dia.
São essas as experiências cotidianas que nos fazem deixar o cérebro praticamente em eterno estado de alerta. Essa maior vigilância aumenta a nossa atenção para as dicas emocionais transmitidas por outras pessoas. Isso faz aumentar o contágio.
Radar Cerebral
Esta resposta é provocada pela ação da amígdala cerebral que gera a reação de luta, fuga ou inércia, diante do perigo. E o medo é a emoção que mais estimula a amígdala. Quando ativada pelo alarme, o circuito da amígdala ativa postos-chaves do cérebro, orientando os pensamentos, atenção e percepção para o que provocou o medo. Automaticamente fica-se mais atenta à expressão facial das pessoas que estão ao redor, em busca de sorrisos ou sinais de desaprovação para que se possa interpretar melhor os sinais de perigo.
Essa maior vigilância gerada pela amígdala aumenta a atenção para as dicas emocionais transmitidas por outras pessoas. Esse foco intensificado invoca em nós o sentimento do outro, aumentando o contágio. Dessa forma os momentos de apreensão deixam o indivíduo mais suscetível às emoções de outra pessoa.
A amígdala funciona ainda como um radar do cérebro, chamando a atenção para o que pode ser novo, surpreendente ou importante, e necessita investigação. Embora esta importância da amígdala não seja novidade para a neurociência, sua função social como parte do sistema cerebral de contágio emocional só foi revelada recentemente.
A Influência do Medo
Dean Buonomano, professor de Neurobiologia e Psicologia do Brain Research Institute da Universidade da Califórnia, traz a seguinte questão no livro “O Cérebro Imperfeito”: por que o medo exerce uma influência tão poderosa?
Na História Renascentista, Maquiavel já aconselhava os príncipes de que era melhor ser temido do que ser amado, uma vez que o medo fabricado fornecia uma poderosa ferramenta para controlar as grandes massas, garantir a lealdade e justificar guerras.
Para Buonomano, a resposta está na capacidade de o medo se sobrepor à razão. Ele explica que boa parte do nosso circuito do medo foi herdado de animais sem muita parte frontal, com pouco córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas, incluindo tomadas de decisões, atenção, comando de atos e intenções.
Nossas ações parecem representar um projeto em equipe: envolvendo as áreas cerebrais mais antigas como a amígdala e os módulos frontais mais novos. Juntas, essas áreas podem chegar a algum consenso em relação ao compromisso apropriado entre emoção e razão.
Porém, Buonomano observa que esse equilíbrio depende do contexto e, em alguns momentos, pode se inclinar bastante na direção das emoções, visto que já sabemos que o número de conexões que saem da amígdala em direção às áreas corticais é maior do que a quantidade das conexões vindas do córtex que chegam até a amígdala.
Não resta a menor dúvida de que em muitos casos, ainda em nossos tempos, os medos sejam amplificados e distorcidos a ponto de serem completamente irracionais.
Uma das situações mais estressantes que um indivíduo pode passar é ter um líder abusivo, obcecado por poder. Relacionamentos tóxicos ou negativos fazem mal, e ao longo do tempo podem funcionar como um lento veneno para o seu organismo.