Na semana passada, o anúncio pelo Banco Central do corte da taxa Selic para 5,5%, o menor índice da série histórica. Na última quarta-feira (25/09), o saldo líquido de empregos de agosto de 121.387 postos de trabalho formais divulgado pelo Caged - o triplo diante dos resultados de junho e julho.
Dados preliminares do Índice Nacional de Confiança do Consumidor (INC), medido pelo Instituto Ipsos a pedido da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apontam que o indicador deve fechar em 92 pontos em setembro - ainda no campo pessimista (abaixo de 100), mas acima dos 88 de agosto e dos 90 de julho.
Mesmo que, a quatro meses do fim de 2019, o PIB esteja menor que o das projeções iniciais para o ano, a sensação geral é que, se a economia não cresceu, pelo menos ela parou de cair. Ou começou a se movimentar lentamente, de acordo com as impressões de empresários de diversos setores apresentadas nesta quinta-feira (26/09), na reunião mensal do Comitê de Conjuntura da ACSP, coordenada por Edy Kogut, membro do Conselho Superior da entidade.
Exemplo disso é a construção civil, que começou a dar sinais de recuperação, com avanço de 0,8% no nível de atividade (dados da CNI) e interrompendo 20 trimestres seguidos de queda. Mesmo com resultado tímido, ele está "positivo", em "nítida recuperação", e com "tendência de crescimento", disseram representantes do setor.
Apesar da base fraca de comparação, um empresário citou dados do 1º primeiro semestre da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) que dão ideia disso: o número de lançamentos cresceu 15% no período. Já o de unidades vendidas subiu 14%. A queda nos juros as perspectivas de novos cortes na Selic, além da queda nos preços dos imóveis - especialmente em São Paulo - devem melhorar ainda mais o cenário.
"As incorporadoras já estão dizendo que o Minha Casa, Minha Vida está mantido mesmo que o nome mude, porque o programa é bem embasado. E a Caixa já anunciou que vai investir fortemente no programa em 2020, mantendo a atual Selic nos financiamentos", disse um dos empresários.
No varejo, representantes do setor também sentiram uma leve recuperação, com crescimento nas vendas variando entre 1% e 2%. Isso porque, mesmo mais comedidas, as redes varejistas continuam a inaugurar lojas.
Mas na Semana do Brasil (que seria um bom momento para aumentar as vendas), quem aproveitou foram as grandes redes, que se prepararam e investiram em marketing e divulgação. "Mas as pequenas quase não tiveram variação positiva - provavelmente porque a ação não chegou ao conhecimento de todas", disseram.
Já o setor de agropecuária está otimista, mas com uma ajudinha da onipresente China. De acordo com um representante do agronegócio, o país habilitou 25 frigoríficos brasileiros, que estão ampliando sua capacidade para atender à demanda local por carne bovina. Outros sete produtores de frango também foram habilitados.
Apesar da queda de 2,5% na atividade industrial em 12 meses (dados do IBGE), o indicador de confiança empresarial (Icei/CNI) do setor cresceu pelo terceiro mês consecutivo, chegando a 59,4 pontos em agosto, acima da média histórica (54,5). Assim como a intenção de compra máquinas/bens de capital, que subiu 6,6%.
A queda dos juros e a alta de 15% nas operações de crédito para pessoa física em agosto, puxada pela aquisição de imóveis e veículos, segundo um economista da ACSP, favoreceram a melhora na confiança. Assim como o câmbio de R$ 4, que "veio para ficar", além de não existirem sinais de alta da inflação no horizonte.
Mas a pedra no sapato, na percepção dos empresários, ainda é o andamento de reformas como a Tributária, que apresentam problemas de coordenação e discussões não muito claras sobre o seu andamento.
"Essa confiança é um misto de pé atrás com a falta de clareza do governo sobre o que vai acontecer", disse um empresário da indústria. "A maneira de ser do presidente não facilita a percepção sobre o futuro. Mas há boas expectativas que o Ministério da Economia, sem muito alarde, esteja fazendo a lição de casa." A conferir.