O home office e o trabalho híbrido vieram pra ficar, é o que dizem muitos especialistas. Os modelos de trabalho se tornaram mais populares com a chegada da pandemia e a necessidade do distanciamento social, mas mesmo com o avanço da vacinação, algumas das maiores empregadoras do país ainda permanecem atuando a distância e com previsão de manter a situação.
A decisão de seguir com a opção de trabalho remoto, ao menos por algumas vezes por semana, está em linha com o que apontam levantamentos recentes, em que os trabalhadores dizem querer aproveitar a experiência de trabalho que tiveram nos últimos anos e preferem não estar no escritório todos os dias.
Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) , do Ministério do Trabalho e Previdência, fazem parte dos maiores empregadores formais do país instituições bancárias (Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Itaú), os Correios, empresas do setor de alimentação (BRF e Seara), de teleatendimento (Atento) e de saúde (Raia-Drogasil).
Pelos critérios da Rais, o topo do ranking antes da pandemia, em 2019, era dos Correios e do Banco do Brasil. De acordo com os dados atuais de número de funcionários fornecidos pelas empresas à Folha, o primeiro lugar em 2022 pode ficar com o Itaú Unibanco.
Com quase 100 mil colaboradores hoje, o Itaú Unibanco chegou a migrar metade de seu quadro para o modelo remoto, com o início da pandemia, em 2020.
Em fevereiro deste ano, já com a vacinação em estágio mais avançado, o banco passou a adotar três modelos de trabalho nos escritórios administrativos: presencial, para os colaboradores cujas funções demandam presença no banco todos os dias; híbrido, para times que precisam trabalhar nos escritórios com frequência ou em situações predefinidas; e flexível, que prevê mais autonomia.
No caso dos Correios, atualmente com 88,5 mil empregados, 2% (cerca de 1.770) estão em trabalho remoto. Segundo a empresa, mesmo antes da pandemia, a partir da reforma trabalhista de 2019, o teletrabalho é uma opção para parte do quadro de funcionários, "observando as condições legais, bem como a conveniência na prestação dos serviços".
No Bradesco, há a expectativa de manter cerca de 30% do quadro de funcionários no sistema híbrido para as áreas administrativas com atividades elegíveis.
"O aprendizado com o trabalho remoto permitiu que, por meio de acordo coletivo com o movimento sindical, fôssemos o primeiro banco de grande porte a assumir o compromisso de adotar essa forma de trabalho após a pandemia", diz a instituição, que tem cerca de 87,5 mil funcionários.
Eles também têm a avaliação de que, em algumas áreas, essa modalidade de trabalho passou a ser relevante para a atratividade e a retenção de talentos.
A Caixa chegou a ter mais de 56 mil empregados (35,6% do total) trabalhando de casa, em razão da pandemia, e teve um retorno positivo por parte dos que atuaram remotamente, sobretudo pela maior autonomia e possibilidade de conciliação entre trabalho e família.
"Com isso, considerando o cenário atual, estudam-se a implantação e percentuais aplicáveis para manutenção do trabalho remoto na empresa", diz a assessoria do banco.
Depois de usar a modalidade durante a pandemia, o Banco do Brasil implantou o trabalho de formato híbrido, com até dois dias na semana fora do escritório. Atualmente, são cerca de 4% dos 86,3 mil funcionários alternando entre o trabalho remoto e o presencial.
A instituição diz acompanhar a tendência das novas modalidades de trabalho desde 2015, quando criou um projeto-piloto para alguns funcionários, e a necessidade de adotar o trabalho remoto durante a pandemia reforçou as vantagens dessas modalidades.
No fim de março, o governo editou uma medida provisória que regulava o trabalho híbrido. Especialistas em direito do trabalho ainda se dividem sobre a possibilidade de as novas regras virem a incentivar mais empregadores a ofertar essa modalidade de trabalho.
Dos 70 mil colaboradores da Atento, cerca de 35% estão em home office —o restante se divide entre os modelos híbrido e presencial.
"O sistema tem se mostrado benéfico para todos. Esse formato de trabalho ampliou as possibilidades de contratação e movimentação interna de profissionais que, por algum motivo, priorizam o modelo remoto", diz a vice-presidente de Pessoas e Responsabilidade Social da Atento no Brasi, Ana Marcia Lopes.
Já a Raia-Drogasil decidiu manter os cerca de 3.000 funcionários da área corporativa no modelo híbrido. "Levamos em conta todos os aprendizados extraídos ao longo dos últimos dois anos", diz a diretora na empresa, Patricia Vasconcelos Giacomo.
Quando iniciou o retorno ao presencial, a rede de farmácias, que tem 50 mil colaboradores, optou por fortalecer a independência das equipes.
"O estar junto agora tem outro significado, muito mais profundo que o cumprimento de uma tarefa. Os times têm liberdade de definir quando faz sentido estar presente", diz ela.
Em 2019 (antes da pandemia):
Em 2022*:
*Até o primeiro trimestre; dado mais recente da BRF é de 2021
Fontes: Empresas e Rais (Ministério do Trabalho e Previdência)
Uma consulta feita com mil pessoas pela Edelman América Latina em março aponta que os brasileiros estão satisfeitos com seus empregos atuais, percepção que aumentou com o trabalho remoto.
Para 61%, o home office fez crescer a satisfação com o emprego, enquanto apenas 16% disseram que diminuiu.
Além disso, o estudo —que foi encomendado pela plataforma de suporte tecnológico para empresas ServiceNow— diz que 7 em cada 10 estão trabalhando de casa ao menos em dois dias na semana, ante 52% no pré-pandemia.
Antes da crise sanitária, 21% nunca haviam trabalhado em home office, e agora há apenas 1% nessa situação.
"Foram várias descobertas e ganhos com o trabalho remoto, e a maioria não quer abrir mão disso. O que se observa é uma tendência de o funcionário negociar um modelo híbrido com a empresa, sempre que possível", diz a executiva da ServiceNow no Brasil, Katia Ortiz.
Entre os aspectos positivos do home office apontados pelos entrevistados, estão a economia de tempo de deslocamento (51%), a economia de dinheiro (43%) e o maior tempo com a família (41%). Por outro lado, 28% se sentem mais desconectados do trabalho, e 27% dizem que é mais fácil se distrair.
Ortiz complementa que a própria empresa percebe que é importante tornar os funcionários mais satisfeitos.
"Nos Estados Unidos, há um movimento forte de empregados pedindo demissão, também por terem sido obrigados a voltar ao escritório. Para reter talentos, a empresa acaba tentando ofertar modelos alternativos e aumentar o investimento em tecnologia."
Outro estudo recente, da Eaesp/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas) e em parceria com o PageGroup e a PwC Brasil, apontou que 72% dos executivos dizem acreditar que a chefia se adaptou ao trabalho remoto, e 71% dos colaboradores têm expectativas de mudanças no ambiente de trabalho, rumo a uma maior flexibilização.
Em empresas de menor porte, a decisão também tem sido manter dias de trabalho fora do escritório.
"Ao adotarmos o home office como modelo oficial, percebemos vantagens tanto em termos de satisfação dos colaboradores quanto na atração de talentos. Mais de 40% estão fora do eixo Rio-São Paulo", diz o executivo da Cortex, Bruno Pereira, plataforma de big data que vende soluções para vendas e comunicação, onde o trabalho é totalmente remoto para os 300 colaboradores.
A empresa tem 30% de seus 117 funcionários em trabalho remoto e 70% em sistema híbrido, indo ao escritório duas vezes por semana.
Fonte: com informações da Folha de S.Paulo