Dia desses ao organizar a agenda da semana me deparei com uma daquelas efemérides: 26 de julho, Dia dos Avós. Logo me veio a doce lembrança dos meus “nonos”. A recordação me fez refletir o que era e o que é hoje a percepção de avô e avó. Eu era adolescente e eles já deviam ser 50+, como se diz hoje. Queridos e amados “velhinhos” aposentados e do lar e com vida social restrita aos eventos familiares. Hoje, os “velhinhos” usam smartphones, estão em grupos de WhatsApp, fazem compras online, namoram e adoram novidades e viajar sozinhos. Ou seja, um universo de consumidores prateados.
Nessas poucas décadas alguns comportamentos mudaram, acompanhando os avanços tecnológicos. O que ainda continua no passado é o preconceito com a velhice. Para mim, envelhecer é uma dádiva. Afinal, só não envelhece quem já partiu dessa. A velhice é apenas a última das fases da vida humana, que deve ser vivida com toda plenitude. Assim como as demais, tem seu bônus e seus ônus.
O que me deixa indignada é ver o quanto esse preconceito tem cerceado oportunidades desses brasileiros que passaram dos 50. Seja no mercado de trabalho como também no mercado de consumo. Embora já ocorram alguns movimentos positivos, os processos seletivos das empresas ainda têm muito que evoluir no que diz respeito a contratações de “maduros”. Aliás, já está mais que comprovado que equipes intergeracionais são muito mais produtivas. Porém, o idadismo (nome que se dá à discriminação por idade) ainda impera soberano na maioria das seleções de pessoal.
Outra situação de difícil compreensão tem a ver, com raras e importantes exceções, em como o comércio e as marcas enxergam esse público. Uma dessas raras e felizes ressalvas foi a campanha para do Dia dos Namorados com um casal 60+ feita por uma marca para lançar sua coleção de roupas íntimas.
É preciso mudar paradigmas. Afinal, o mercado prateado já movimenta mais de R$ 1,8 trilhão por ano. Destes, R$ 29,5 bilhões em compras online em 2021. E mais: segundo o IBGE, até 2030 a população brasileira acima dos 60 irá superar o grupo de até 14 anos. Salve, salve a longevidade!
De olho nesse mercado, uma iniciativa de grande abrangência é a Silver Week, que faz parte do Longevidade Expo+Fórum, que promoverá uma semana de descontos e oportunidades especiais em serviços para os longevos. O evento está programado para ocorrer entre 29 de setembro e 1º de outubro no Centro de Convenções Rebouças.
Enfim, a conclusão é simples: estamos em plena era dos consumidores prateados. Um público exigente que precisa ser valorizado, contatado e conectado por meio de uma comunicação assertiva e experiências que atendam suas reais demandas. A cadeira na loja é boa intenção para qualquer pessoa com dificuldade física ou motora. No entanto, não denota necessariamente uma preocupação com esse público. Afinal, joelhos problemáticos não têm idade.
Já passou da hora de darmos visibilidade a esse público consumidor, empreendedor e influenciador. Sim, esse público também empreende e se reinventa. Um dos “musos’ da internet é o ator Ary Fontoura, que aos 88 anos coleciona 4,2 milhões de seguidores. Assim, como ele, existe uma série de vovôs e vovós lacrando nas mídias sociais.
Segundo pesquisa do Sebrae realizada em 2020, 1,9 milhão de donos de pequenos negócios são 60+. A título de curiosidade histórica, a principal emissora de tevê do país foi criada quando seu fundador tinha 61 anos. A mesma idade que o criador de um dos mais importantes grupos de tecnologia do mundo.
Como diria Cora Coralina, escritora que publicou o primeiro livro aos 76 anos, recria tua vida, sempre, sempre. Ou seja, recrie seu modo de pensar e agir, sempre, sempre.
Uma coisa é certa: ignorar esse universo prateado não é um bom negócio!