Estamos nos aproximando do fim da jornada de trabalho de cinco por semana? Alguns estudos conduzidos em países como Reino Unido e Bélgica mostram que sim. Porém, o regime de trabalho funciona diferente em cada lugar.
“O profissional brasileiro apresenta dificuldades de compreensão de sua carga horária. No atual regime, dificilmente o colaborador consegue render plenamente, ainda mais pela baixa qualificação do trabalhador no país”, explica Wanderley Cintra Jr., psicólogo especializado em comportamento no trabalho.
Para o especialista, o ideal é encontrar o equilíbrio entre produtividade e flexibilidade. “A diminuição da carga horária pode ser um caminho para potencializar a produção, ao passo que se aumenta o tempo de descanso e mesmo preparação”, afirma.
Mas como aplicar esse novo modelo aqui no Brasil? Abaixo, confira três ações necessárias que as empresas devem realizar para adotar este esquema:
No Brasil, as lideranças costumam acreditar que excesso de trabalho é sinônimo de qualidade e resultado. Porém, de acordo com Cintra, essa lógica esconde uma baixa produtividade, má-organização e adoecimento das pessoas.
Para que o modelo de trabalho com quatro dias na semana funciona, o psicólogo explica que é necessário construir uma liberdade profissional. “Construímos aqui uma cultura de vigia, de desconfiança. Em outros países, já se cria um modelo de trabalho por horas em que o colaborador molda sua própria jornada e recebe de acordo”, pontua.
Para Cintra, os colaboradores precisam entender que não se trata apenas de um dia a menos de trabalho, mas maior produtividade nos outros quatro. “É necessário reforçar que, pela carga horária reduzida, os profissionais precisam estar dispostos a se engajar mais durante os períodos de trabalho”.
Aqui entra a chamada Lei de Parkinson, do historiador Cyril Northcote Parkinson: “todo trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização”. Ou seja, a redução de prazos e um melhor planejamento tende a se mostrar como incentivo e trazer resultados positivos para a produtividade.
“Conceder um intervalo maior de descanso proporciona maior tempo de qualidade do profissional com sua família e amigos, o que retorna para a equipe como maior disposição e interesse no trabalho”, comenta Cintra.
“Por que a empresa irá adotar esse modelo?”. De acordo com o psicólogo, essa é uma das perguntas chaves que a organização deve fazer antes de praticá-lo. Ele explica que passar apenas uma mensagem de bem-estar profissional pode confundir o colaborador, fazendo com que perca produtividade.
“Isso pode gerar, inclusive, uma contestação do próprio colaborador sobre o novo modelo de trabalho, alegando que não tem tempo suficiente para fazer as tarefas”.
Segundo Cintra, o propósito deve ser claro e unir critérios como valorização da equipe, bem-estar e produtividade. “Além disso, primeiro, eu recomendo um ensaio de três meses para que a empresas e os colaboradores se adaptem ao novo modelo. Com ele, a empresa terá melhores condições de entender se este esquema de trabalho funciona ou quais mudanças precisam ser feitas”, finaliza.