Em Santa Catarina, a retomada do turismo de verão evidenciou a falta de mão de obra qualificada. Em Mato Grosso, produtores sentem uma pressão por alta de salários superior à do restante do País. Em Mato Grosso do Sul, a abertura de fábrica exigiu trazer trabalhadores de fora do Estado. Em Rondônia, a taxa de desemprego caiu para 3,1%, o que indica o desafio para os empregadores. Essas situações exemplificam os gargalos para a economia nos quatro Estados que estão mais perto do pleno emprego.
Em um Estado em que a taxa de desemprego ficou em 3,2% em 2022, estudo da unidade local da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou que quase 64% dos estabelecimentos tiveram dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados para o verão. "É um gargalo bem grande. Há vagas de trabalho em vários setores, e acaba diminuindo (a oferta de mão de obra) para o nosso", diz Juliana Mota, presidente da Abrasel/SC.
Em Itajaí, cidade litorânea que tem o segundo maior PIB de Santa Catarina, à frente da capital Florianópolis, a empresária Mirela Raupp diz que já se foi o tempo em que era "assediada" por trabalhadores em busca de vaga em seu café. Hoje a situação é oposta: "Temos de correr atrás, colocar anúncio, procurar no balcão de empregos (da prefeitura) e nas redes sociais. E isso não significa ter sucesso." Ela tem duas vagas abertas, que não consegue preencher. "Algumas pessoas respondem aos anúncios, mas ao saber que precisariam trabalhar aos domingos desistem. Quando começam a trabalhar, ficam um mês e vão embora."
Hoje, segundo a prefeitura, o Balcão de Empregos tem 1,5 mil vagas em várias áreas. Se por um lado os empresários sofrem para encontrar candidatos, do outro, há profissionais que escolhem onde querem trabalhar, como é o caso de João Paulo Lima, engenheiro civil paulista na cidade há quase dois anos. "Recebo mensagens de WhatsApp e e-mail de locais para os quais nunca enviei currículo. Já tive reuniões frutos de indicação nas área de logística e construção civil", diz ele, que hoje trabalha em uma loja.
Em Sinop (480 km ao norte de Cuiabá), o produtor Moises Debastiani contrata temporários do Paraná, de Rondônia e de Goiás. Dos trabalhadores que precisa para plantios e colheitas, 40% vêm de fora. Ele conta também que, na região, quando alguém pretende construir em casa, precisa fechar com os trabalhadores cerca de seis meses antes. Presidente da Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), Debastiani diz ter conhecidos que compraram caminhões e levaram 60 dias para conseguir contratar motoristas.
Segundo o gerente de economia da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (FIEMT), Pedro Máximo, a agroindústria é o que vem aquecendo o mercado de trabalho local, que registrou desocupação de 3,5% em 2022. Com a falta de pessoal, os salários estão sob pressão. Em 2022, a massa salarial em Mato Grosso cresceu 16,1%; e a média no Brasil, 6,9%.
Em Ribas do Rio Pardo, cidade com cerca de 25 mil habitantes, a Suzano tem de recorrer a mão de obra de fora da região para garantir a operação da futura planta, prevista para começar no segundo semestre de 2024. A demanda se dá em diversas fases. No pico, 10 mil empregos diretos devem ser criados.
Num Estado em que a taxa de desocupação em 2022 foi de apenas 3,3%, a Suzano começou a treinar profissionais locais para trabalhar na nova planta. Já foram capacitadas 198 pessoas e, desse contingente, 133 estão praticando na unidade de Três Lagoas.
Nos últimos anos, também Rondônia tem se beneficiado do agronegócio, ajudado pelo uso intensivo de tecnologia. A taxa de desocupação no Estado recuou de 3,9% para 3,1% entre 2021 e 2022.
"O entorno de Porto Velho, que, há anos atrás, tinha terras subprecificadas, hoje, está em franca expansão com a produção de grãos. E não é só a soja. Estou falando de arroz e milho", diz Marcelo Thomé, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.