O governo está empenhado neste ano a ajudar micro e pequenas empresas a desenvolverem projetos em pesquisa e inovação. Ontem, o presidente do Sebrae, Luiz Barreto, afirmou que a instituição mobiliza aporte de quase R$ 787 milhões nos próximos três anos para auxiliar nesses projetos e o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, além de defender a criação de fundos setoriais para fomentar a pesquisa, especialmente nas áreas de petróleo e de mineração, disse que o governo federal elabora programa para a criação de bolsa de estudo para a formação de engenheiros nas universidades.
No caso do Sebrae, a instituição informou que investirá R$ 409 milhões, sendo R$ 85 milhões para serem aplicados em 2011, R$ 134,6 milhões em 2012 e R$ 189,5 milhões em 2013. O restante dos recursos será proveniente das empresas beneficiadas, do Sebrae nos estados e de parceiros. A mobilização faz parte da nova formatação do programa Sebraetec, lançado neste ano.
Segundo Barretto, um dos intuitos em ajudar a aumentar a inovação é que esta sirva de instrumento para fazer com que as pequenas e microempresas consigam enfrentar a concorrência de produtos chineses. "Apenas 12 mil das pequenas e microempresas exportam seus produtos. A grande dificuldade é pensar como elas podem se inserir e ampliar seu mercado", disse Barretto. "Não há como pensar no desenvolvimento do País sem pensar na inclusão das pequenas e médias empresas. Elas participam apenas com 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos países desenvolvidos, esse patamar é quase o dobro disso. Na Argentina e no Chile, também. Há um desafio de aumentar a participação no PIB."
Ele também destacou a importância dos aportes à inovação para que as micro e pequenas se preparem para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas no Rio de 2016. "Os eventos significam novas oportunidades para micro e pequenos empresários."
De olho no potencial de novos negócios, o Sebrae contratou a Fundação Getúlio Vargas para fazer um mapa de oportunidades e requisitos que devem ser preenchidos pelas pequenas e microempresas. O presidente do Sebrae ressaltou que há nove setores em estudo com potencial para uma participação maior dos pequenos e médios empresários, entre eles construção civil, tecnologia da informação, turismo e produção associada ao turismo.
Apesar de apoiar iniciativas do Sebrae e do governo para que micro e pequenas empresas inovem mais, o professor da Fia e diretor presidente da Fractal, Celso Grisi, critica a demora dessas ações. "Por anos, o Brasil cresceu sem planejamento e o governo deveria ter focado nisso antes, já que precisamos pensar agora não só nas oportunidades de negócios que a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem trazer, mas traçar planos para depois desses eventos, de modo a manter os negócios dessas empresas fortalecidos", entende. "Realmente, as micro e pequenas dão vigor para a economia brasileira. São elas que geram empregos e que seguram o País em momentos de crise."
Ciência e tecnologia
O ministro da Ciência e Tecnologia acredita que as criações de fundos setoriais e de uma "Embrapa da indústria" - centro focado em inovação voltado para a área- serão importantes para colaborar com o crescimento também das micro e pequenas empresas no Brasil. Mercadante disse ainda ser necessário melhorar incentivos fiscais e agilizar o processo de patentes do País. E lembrou a proposta de transformar a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em banco público da inovação, cujo orçamento do órgão deve crescer para R$ 2 bilhões ainda neste ano.
Ele criticou também a proposta do Congresso de pulverizar os recursos do pré-sal, o que, para o ministro, compromete investimentos em inovação no País e, consequentemente, o crescimento de longo prazo da economia brasileira.
Mercadante sugeriu a criação de um Fundo Soberano para assegurar que o novo regime de partilha dos royalties do petróleo contribua para o investimento em setores estratégicos no País. "O problema central é que nós não estamos vinculando na repartição dos recursos do pré-sal um projeto de País. A área de ciência e tecnologia perderá em nove anos R$ 12,2 bilhões. Este ano nós já teríamos perdido R$ 900 milhões, se o presidente Lula não tivesse vetado o que o Congresso aprovou", disse. Segundo ele, o Brasil não pode se acomodar com o pré-sal e se conformar a ser exportador de commodity.
Sobre a bolsa de estudo para a formação de engenheiros, Mercadante afirmou que a criação é importante para o futuro da ciência e tecnologia no Brasil, já que segundo ele, diminuiu a procura pela profissão nas universidades brasileiras, ao passar de 7% em 2000 para 5,9% em 2009. "Hoje, temos 5,3 mil bolsas para engenheiros. Queremos, nos próximos anos, oferecer 75 mil bolsas para formar engenheiros e superar essa grave deficiência que vai estrangular nosso desenvolvimento econômico", afirmou.